Uma das atividades industriais que mais consomem água, a produção de papel pode ter seu impacto diminuído por meio da reciclagem, segundo estudo recente publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Em média, no mundo, para fazer uma folha de papel A4 são necessários 10 litros de água, segundo a Water Footprint Network (WFN), uma rede de pesquisa que estuda o consumo de água em diversos produtos. Mas esse valor varia de 2 a 13 litros, dependendo de onde essa folha é produzida. A quantidade de papel reciclado no total de papel produzido é uma das responsáveis pela variação dessa pegada hidrológica, nome dado à quantidade total de água consumida ao longo do processo de produção. No caso do papel, estão incluídos aí os litros gastos desde a plantação de árvores de onde será extraída a polpa.
O estudo é uma co-autoria dos pesquisadores holandeses Arjen Hoekstra, professor de gestão multidisciplinar da água na Universidade de Twente e diretor científico da WFN, e Pieter Van Oel. Segundo os dois estudiosos, a pegada média global é calculada tendo como referência que apenas 40% de toda a polpa de papel produzida no mundo vem de papel reciclado. “A pegada pode ser reduzida se for ampliada a porcentagem de papel reaproveitado”, diz o estudo.
A Espanha é o país mais avançado nesse reaproveitamento. Lá, 72% de todo o papel produzido vem de reciclagem. A Holanda e a Alemanha vêm em seguida, com 60% e 57%, respectivamente. No Brasil, segundo os dados apresentados na pesquisa, apenas 34% das 9,3 milhões de toneladas de papel produzidas vêm do reaproveitamento.
A maior parte da água consumida para a produção de papel é gasta na plantação das árvores de onde é extraída a polpa, pelo processo de evapotranspiração. Já na etapa de manufatura do papel, a maior parte do impacto sobre os recursos hídricos ocorre por conta da contaminação de corpos de água por produtos químicos.
Entre os problemas decorrentes da produção de papel está a redução da disponibilidade de recursos hídricos para outros usos. Se por um lado o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento com mais de 100 mil hectares de florestas certificadas para a produção de papel, as matas reflorestadas ainda têm grande impacto sobre o meio ambiente. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), no Espírito Santo, onde se concentram grandes áreas plantadas com eucalipto para a produção de papel, diversos cursos de água desapareceram, devido ao alto consumo dessa espécie.
Para contornar essas dificuldades, a indústria de papel vem investindo, além da reciclagem, no desenvolvimento de novas tecnologias, como o uso de caules de plantas produtoras de cereais (arroz, milho, sorgo, etc) e o papel sintético (como aquele usado nas notas de 10 reais que já saíram de circulação). Os desafios à produção em massa são os altos custos e alguns resíduos originados no processo.
Fonte: Da Redação da Revista Cyan
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