domingo, 24 de julho de 2011

0 Evolução da agricultura e pecuária no Acre

O mais importante é que o aumento da produção agrícola vem ocorrendo simultaneamente à redução do desmatamento. Entre 2003 e 2009 o desmatamento anual no Acre diminuiu 76,4%, passando de 107,8 mil hectares em 2005, para 25,4 mil hectares em 2008. A área total desmatada, que em 2005 equivalia a 90,7% da área total cultivada com agricultura no estado, em 2008 representava apenas 23%, graças aos Programas de Roçados Sustentáveis, de Mecanização e Uso de Calcário para recuperação de grande parte dos 240 mil hectares de áreas de capoeiras identificados em 2006 pelo Zoneamento Ecológico-Econômico do estado (ZEE-Acre).

Isso tem sido possível em função do pacto agrário realizado pelo governo do estado, prefeituras municipais e segmentos produtivos (Fetacre, Faeac, associações e cooperativas de produtores, ONGs), com o envolvimento da Embrapa Acre, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) através da SFA-Acre, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) através do Incra-Acre, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Sebrae Acre e Senar Acre.

Graças a esse esforço conjunto, entre 1998 e 2008 a área colhida com mandioca aumentou 89% (de 17,8 para 33,6 mil hectares por ano) e a produção cresceu 208% (de 237 para 730 mil toneladas), impulsionando o aumento da produtividade de 13,3 para 21,7 toneladas por hectare.

No mesmo período, a produção de arroz cresceu 21% (de 23,5 para 28,6 mil toneladas). A área colhida com milho aumentou 26% (de 25,3 para 31,8 mil hectares) e a produção 86% (de 33 para 61 mil toneladas). O crescimento da produção de milho está viabilizando o desenvolvimento da cadeia produtiva de avicultura de corte, na região de Brasileia e Epitaciolância, e a implantação de um polo de produção de avicultura de postura para produção de ovos no Projeto de Assentamento Pedro Peixoto, em Senador Guiomard, no km 55 da rodovia BR 317, no trecho Rio Branco-Boca do Acre.

Na pecuária de corte o rebanho bovino passou de 907 mil cabeças, em 1998, para 2,4 milhões de cabeças em 2008. O abate aumentou de 147 para 417 mil cabeças por ano e a produção de carne passou de 34 para 88 mil toneladas/ano. Na pecuária de leite, o número de vacas ordenhadas cresceu 151% (de 56 para 142 mil por ano) e a produção de leite passou de 33 para 70 milhões de litros/ano, entre 1998 e 2008. O valor bruto da produção de leite foi de R$ 10,7 para R$ 46,7 milhões/ano, nesse período.

Estudos da Embrapa Acre e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Censo Agropecuário 2006) mostram que as pastagens do Acre têm a maior taxa de lotação (1,77 unidade animal por hectare) quando comparada a outros estados e à média do Brasil (0,91 unidade animal por hectare). Os ganhos de produtividade pela adoção de tecnologias nos sistemas de produção de pecuária permitiram evitar o desmatamento de 1,4 milhão de hectares de florestas no Acre, entre 1975 e 2006.

Os resultados positivos obtidos na agropecuária do Acre são reflexos da ação integrada de órgãos do governo do estado (Seap, Seaprof, Idaf, Sema, Imac, SDCT-Funtac), do governo federal (Embrapa Acre, SFA-Mapa, MDA-Incra, Banco da Amazônia e Banco do Brasil), do setor privado (Sebrae-Acre, Faeac-Senar-Acre) e do envolvimento de milhares de pequenos, médios e grandes produtores nesse processo de mudança de sistemas de produção agropecuários extensivos, dependentes da derruba e queima de florestas, para sistemas de produção intensivos e sustentáveis.

Desde 2005 o Acre é reconhecido pela Organização Internacional de Epizootias como zona livre de febre aftosa com vacinação, o que credencia os frigoríficos do estado para exportação de carne e subprodutos. Com o reconhecimento do ZEE-Acre pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, o governo do estado implantou as Políticas de Valorização do Ativo Ambiental Florestal e de Regularização Ambiental das Propriedades Rurais. Isso permitirá a certificação dos produtos agropecuários do Acre, reduzindo os riscos de bloqueio à sua comercialização. Além disso, com a regularização ambiental, trabalhista e a adoção de boas práticas de produção agropecuária, os produtores do Acre terão oportunidade de acesso a mercados com preços diferenciados para seus produtos.

Há ainda muito espaço para aumentar a produtividade e o crescimento da produção agropecuária sem necessidade de novos desmatamentos no Acre. A adoção de tecnologias, em larga escala, para recuperação de áreas degradadas e intensificação dos sistemas de produção pode duplicar a área cultivada e a produtividade da agricultura (culturas anuais e perenes), assim como o rebanho bovino e a produção de carne, além de aumentar em mais de 500% a produção de leite. Com isso, será possível viabilizar o crescimento rápido do setor agroindustrial (frigoríficos e laticínios) e fomentar a suinocultura, avicultura e piscicultura, integrando pequenos e médios produtores a agroindústrias.

O novo foco da produção agropecuária no Acre tem como base a incorporação de tecnologias para recuperação de áreas degradadas e aumento da produção e produtividade da agropecuária nas áreas já desmatadas, além do fomento ao setor agroindustrial. Com esse novo cenário é possível conciliar crescimento econômico, melhoria da qualidade de vida da população rural e abastecimento dos centros urbanos com a oferta de alimentos de melhor qualidade a preços acessíveis e a conservação ambiental.

AUTORIA

Judson Ferreira Valentim
Engenheiro-agrônomo
Pesquisador
Chefe-geral da Embrapa Acre
E-mail: judson@cpafac.embrapa.br

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